sexta-feira, 19 de outubro de 2007

PADROEIRO CONSIGNADO


Com a notícia da transformação do distrito em município, a comunidade católica alvoraçou-se. Várias reuniões passaram a ser feitas pois, segundo os moradores da vila, município que é município tinha que ter um padroeiro.
Por determinação do padre e da comunidade, em função da localização da currutela no Vale São Lourenço, ficou combinado que o padroeiro seria São Lourenço e convencionou-se que uma imagem do santo iria ser adquirida o mais rápido possível. Para tanto foram levantadas as prendas, realizados os leilões necessários e o dinheiro levantado foi entregue para Josuel (membro da comunidade que levava produtos daqui para vender em Cuiabá e de lá trazia as encomendas para serem vendidas e entregues aos moradores locais).
Josuel viajou e na volta a comunidade se reuniu ansiosa e curiosa para receber a imagem do padroeiro São Lourenço. E então para surpresa de todos ao ser desembrulhado o pacote, o padre dá a triste notícia de que o "santo" estava errado. É que ao invés de trazer a imagem de São Lourenço, Josuel trouxe uma imagem de São Francisco.
Para justificar a troca das imagens, Josuel explica aos devotos, de queixos caídos, que não havia encontrado a imagem recomendada, porém mesmo que a encontrasse o dinheiro arrecadado seria insuficiente para o pagamento da mesma, razão pela qual ele terminou comprando o "São Francisco".
A compra da "imagem errada" gerou uma discussão entre Josuel e um português por nome Manoel, que afirmava estar Josuel "querendo faturar encima da compra da imagem". Como a coisa pegou fogo, para evitar o pior, Leopoldo Sonsin e Eugênio Scaramal - que eram líderes católicos na comunidade -; para acalmar os ânimos sugeriram que a partir daquela data, ficava o dito por não dito e "São Francisco" seria então, doravante, o padroeiro do município.
Magoado com as supostas acusações de Mané Português, Josuel devolveu o dinheiro que a comunidade lhe entregara, ao padre, no ato, afirmando que a imagem de São Francisco, a partir de então, era de sua propriedade, entretanto ele a deixaria na igreja até o dia em que entendesse, podendo retirá-la quando bem quisesse.
A comunidade aceitou a proposta de Josuel, porém a imagem permanece até os dias atuais na Igreja Matriz, pois nem Josuel ou seus descendentes até a presente data não manifestaram desejo de retirá-la.

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